07.07.2017







Primeiramente eu te respondo dizendo que, sob certos aspectos, você tem razão. Para nós homens, nos custa entender o universo feminino contemporâneo e especialmente o feminino que nos habita, ou a anima, termo que Carl Jung usou para definir este conceito.


Por outro lado, nas minhas andanças corporativas, convivi com muitas mulheres, que me ensinaram muito. Executivas inspiradoras, sábias, boas mães e grandes líderes. Já na minha atividade clínica, tenho sido procurado cada vez mais por mulheres, mesmo não sendo exatamente um especialista no mundo feminino.


Na verdade, talvez eu seja um especialista de forma empírica, afinal de contas são duas irmãs, sete tias, além da minha mãe e minhas avós, que me ajudaram a crescer e me desenvolver. É claro que meu pai teve um papel fundamental nisso tudo, mas sobre ele eu falo outra hora.


Some-se a essas mulheres, a minha formação em Psicologia (90% de mulheres na sala) e minhas atividades profissionais no RH (60% a 70% são mulheres). Fora, a mais importante de todas, minha eterna e amada parceira, Claudia, com quem me desenvolvo muito.


Se tem algo que que aprendi que no convívio com todas essas mulheres, foi que a ousadia está no DNA de cada uma delas. E não exatamente porque elas levantam a bandeira de alguma ideologia, ou ficam vociferando as dificuldades de ser mulher no mundo.


Elas simplesmente acordam cedo e vão para a vida. Esse “ir para a vida”, é tudo isso e mais um pouco: trabalhar, empreender, cuidar dos filhos, cuidar do marido, dar bronca no namorado, sair com as amigas, malhar, cuidar da casa, estudar, viajar, conhecer gente, ufa!


Mas de repente, me vi frente à uma experiência contrária: mulheres que não querem tudo isso, e que na verdade só almejam por um relacionamento com um homem bacana, curtir a vida de maneira mais discreta, menos ousada, menos do mundo – mas ainda bela!


No mundo dos atendimentos clínicos, há uma troca enorme de experiências, afinal de contas, o título de terapeuta não me atribui automaticamente o conhecimento de todas as coisas do mundo.


E foi nessas trocas que percebi o quanto ainda há uma parcela de mulheres que estão amedrontadas com esse modelo de vida contemporâneo, que valoriza o que é o externo, o que é óbvio e o que é percebido.


De forma alguma isso se trata de uma atribuição de culpa às mulheres por se sentirem assim. São tantos fatores e tantas experiências individuais, que seria uma heresia de minha parte dar uma explicação geral para as questões que são particulares.


Mas pelo menos um ponto eu gostaria de tocar: a relação das mulheres com o seu masculino interior, ou o animus, como descreveu Jung. Essa cobrança excruciante, de se ter um namorado ou marido legal, de ter um corpo perfeito ou de se obter sucesso a qualquer preço, pode ser o resultado de uma espécie de “homem” interior, muito duro, exigente e inflexível, que fica ditando as ordens dele a você.


Muitas vezes vejo discursos como “a sociedade exige isso, a sociedade exige aquilo”, mas quem é a sociedade? As nossas referências externas são sempre construídas a partir da imagem subjetiva que temos do mundo. De modo geral, não inventamos nada novo, só reorganizamos, de maneira cada vez mais complexa, as coisas que o universo nos ofereceu.


Caso suspeite do que estou falando, tente fazer um exercício simples: pense numa cor que nunca existiu. É bem difícil, para não dizer impossível.


E isso vale para a realidade psíquica. Boa parte das experiências que vivemos no mundo externo, positivas ou negativas, de alguma forma nos compõem internamente, formadas pelas nossas experiências de vida, e até mesmo pelas heranças culturais que a humanidade nos deixou.


Se você me permite ousar e dar uma dica, ela seria: escute a sua voz interior. Sei que padrões sociais são importantes. Ser vaidosa, cheirosa, bonita, é importante. Mas seguir seu caminho, entender seu propósito, também é. E isso pouco tem a ver com o mundo externo, mas tem muito a ver com seu mundo interno.


Fiquei feliz quando vi a reportagem da Thaís Carla, dançarina da cantora Anita, que pesa 140kg e se diz satisfeita com seu corpo e sua vida. Longe de se fazer qualquer exaltação da obesidade, especialmente sabendo dos riscos que ela traz à saúde.


Mas a reflexão se refere a buscar qual é o seu ponto ótimo de vida, aquele em que você esteja confortável em seguir seu caminho pessoal, lidando bem com as convenções sociais, especialmente dando menos voz para esse “homem” interior, que lhe exige um esforço infindável para satisfazê-lo.


Encontre seu caminho, escute a si mesma, exercite sua autenticidade, e tenha certeza que se nós homens não aprendermos e não nos inspirarmos com você, não seremos dignos de nos relacionarmos com você. E você sabe muito bem que “cabeça-de-bagre” se combate com inteligência.


Por outro lado, não faça disso um cartaz: “eu não namoro porque os homens não me entendem”. Isso só nos afastará ainda mais de você. E digo mais: tenha a certeza de que as mesmas dúvidas, anseios e medos que você tem, passam pela cabeça dos homens.


Vamos transformar juntos esse mundo. Nós homens, escutando e lidando melhor com a nossa anima, para nos relacionarmos de maneira mais saudável com o mundo e com as mulheres, e você, mulher, buscando os aspectos positivos do seu animus, aquele que te incentiva, te apoia e te põe pra frente.


Quanto melhor nos relacionarmos com nosso mundo interno, melhor será nossa relação com o mundo externo.


Um abraço,
Rafael